“Andar de boca em boca” ou de nariz em nariz?” Joana Lima (CianMira)

Num momento tão difícil e desconcertante como aquele que temos vivido, é necessário que a informação transmitida seja correcta, objectiva e também reconfortante. No entanto, quando exploramos o desconhecido, a objectividade e a subjectividade mesclam-se pois as descobertas vão desmitificando aquilo que se pensava ser certo e abrindo caminho para a objectividade. E é assim que neste artigo, não vou falar do novo coronavírus, mas dos seres simples, na sua estrutura, mas muito complexos, no entendimento humano, que são os vírus.

Os vírus são seres acelulares, ou seja, não são constituídos por células (nem uma!) mas por uma cápsula proteica – a cápside – que envolve o material genético que, dependendo do vírus, pode ser ARN (ácido ribonucleico) ou ADN (ácido desoxirribonucleico). Muitos vírus ainda possuem um invólucro externo semelhante à membrana celular, produzido pela célula hospedeira onde eles se multiplicam. Assim sendo, os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, pelo que não sobrevivem muito tempo fora das células que parasitam (células hospedeiras).

Não sei se reparou durante a sua leitura, mas nunca utilizei os termos “vida” ou “organismo”, uma vez que há um debate na comunidade científica sobre se os vírus são ou não seres vivos. Os vírus não têm metabolismo (conjunto de reacções químicas que permitem os seres vivos crescerem e desempenharem diversas funções), não produzem energia, não crescem e não se dividem. Estas características levam a que vários cientistas não os considerem seres vivos. Por outro lado, se considerarmos a perspectiva da Biologia Molecular, na qual “vida” é definida através da capacidade de replicação, de expressão de informação genética transmissível e de evolução, então os vírus são vivos.

Mas então, se os vírus são seres acelulares, como sobrevivem? Bem, para isso precisam de entrar em células. Daí serem considerados parasitas intracelulares obrigatórios e tornando-se patogénicos.

O ciclo infeccioso inclui diversas fases distintas: a adsorção, penetração, descapsidação, fase sintética e a montagem e extrusão. A adsorção consiste na ligação do vírus a receptores da membrana da célula. Depois, o vírus penetra na célula (penetração). Já no interior da célula hospedeira, assume o comando da sua maquinaria metabólica para se reproduzirem. A cápsula proteica é degradada por enzimas e o ácido nucleico viral (ADN ou ARN) fica pronto para se replicar (descapsidação). Com o controlo total sobre a célula, o vírus pode então multiplicar-se, replicando o seu ácido nucleico e produzindo proteínas para novas cápsulas proteicas (fase sintética). Na montagem e extrusão, os novos vírus são montados (com material genético envolvido pela cápsula proteica) e libertados pela célula, que muitas vezes acaba por ser destruída, e seguem para novas células, espalhando-se pelos tecidos.

E o nosso corpo? Não reage aos vírus? Claro que reage. A primeira linha de defesa do nosso organismo são as barreiras anatómicas como a pele, os pêlos das narinas, as mucosas e as secreções e enzimas (lágrimas e saliva, por exemplo). Mas se o vírus ou outro agente patogénico conseguir, mesmo assim, entrar no nosso corpo, este recebe-o com a segunda linha de defesa: a resposta inflamatória. É aqui que surge a febre que, quando moderada, contribui para a defesa, inibindo a multiplicação dos microrganismos. É nesta fase que o nosso corpo também forma proteínas chamadas interferões. Quando um vírus entra numa célula, induz a síntese do interferão que abandona a célula e liga-se a outras células, estimulando-as a produzir proteínas antivirais. Ou seja, os interferões não são antivíricos mas “avisam” as células vizinhas de que se aproxima um invasor.

E muito mais acontece no nosso organismo, dependendo do tipo de vírus que entra no nosso corpo. Apesar de o nosso sistema imunitário conseguir combater sozinho muitos destes vírus, existem outros que precisam de um “reforço” como uma vacina para prevenir infecções.

Este é um tema com “pano para mangas” pois a Microbiologia está em constante evolução, com novos vírus e bactérias a surgir. Um dos grandes desafios desta ciência é a espectacular (e, às vezes, perigosa) e rápida evolução dos microrganismos devido a mutações que vão surgindo e que os podem tornar mais aptos a resistirem a determinado tratamento ou mesmo ao sistema imunitário.

Termino este artigo, generalista mas espero que elucidativo, com uma mensagem de esperança e ânimo para os dias que se avizinham. Aproveitemos para rever as nossas prioridades e compreender que nesta vida, somos seres vulneráveis mas repletos de amor.

Porque no CianMira acreditamos em Deus, na ciência e na família.

Por mim, por ti, por todos: fiquemos em casa.

 

Joana Lima, CianMira