Alexandre, “o Grande”!

 

Alexandre Cruz quebrou recorde, desafiou leis da natureza humana e voou de Chaves a Faro sem sair de cima da bicicleta. Eis, Alexandre, “O Grande”…

Alexandre Magno, “o Grande”, se tornou rei da Macedônia quando tinha apenas 20 anos. E em pouco mais de uma década, derrotou os persas e construiu um império que se estendia da Grécia até à Índia. Mas, esse epíteto que acompanha os livros de História de grandes personagens da humanidade pode, agora, ser humildemente transportado para a noite de 8 de Agosto de 2020 e para a manhã e a tarde do dia 9, quando Alexandre Cruz, um mirense talhado para pequenas grandes loucuras atualizou o recorde nacional do famoso percurso da Nacional 2, que era de 24 horas e 27 minutos para – pasme-se – 21 horas, quarenta e um minutos e trinta e três segundos!

Mas, se o novo tempo realizado já é um marco, o que dirá o leitor se souber que este ciclista conseguiu concluir toda a sua saga sem sair de cima da bicicleta? Sim, é verdade!

Na noite de Domingo, familiares, amigos e companheiros da ACCM/ACCM BTTeam estiveram à espera dele e dos companheiros de jornada que o acompanharam no carro de apoio, Rui Lemos e Filipe Ascenção, para prestar homenagem e aplaudir a ousadia de se desafiar a si próprio e conquistar a sua maior glória desportiva.

Abatido “com uns três quilos a menos”, naturalmente bastante cansado, mas visivelmente feliz pela “surpresa desta recepção brutal” lá estava Alexandre Cruz para receber abraços intermináveis e explicar a todos um pouco do que foi esta “experiência única e inesquecível”.

Admitindo ter sentido uma “enorme sensação de alívio” e tendo ficado “arrepiado” quando chegou ao fim do percurso, admitiu que foi “muito desgastante psicologicamente” ter percebido, ainda na primeira fase do desafio, que estava perdido e não conseguia reencontrar o caminho original. Foi aí que tudo mudou: como disse à reportagem o amigo Pedro Rocha – que já fez o mesmo percurso, mas em 5 dias (“e não foi nada fácil”…) sabendo que tudo estava a ir por água abaixo, Alexandre “podia ter virado rumo a casa, já em Penacova” mas, não foi isso que fez!

Mudando todos os planos de fazer paragens a cada 100 quiilómetros, Alexandre Cruz colocou os companheiros que o acompanhavam “com os cabelos em pé” e nunca mais parou. Comer? Trocar as meias? Aguentar as cãimbras? Tudo em cima da bicicleta, pois a adrenalina era enorme, o stress inicial estava persente e, para frente é que se faz o caminho!

Foi uma jornada memorável, a deste rapaz que procura “abrir novas portas” e que só trouxe, para além das naturais mazelas, uma tristeza: a de saber que “existem pessoas que, mal viram o que se passou, tentaram deitar abaixo todo este esforço e esta conquista. Mas, não estou para aí virado… cada qual com a sua consciência – e a minha está muito tranquila por ter feito isto de uma forma natural – quem quiser que vá, e faça melhor!”

Assim é Alexandre Cruz, desde este fim de semana, “o Grande” por tamanha conquista. Dividindo o mérito com o apoio de quem o seguiu no carro de apoio ou em lives na Internet ele, mais que ninguém, sabe dar o devido valor ao que se passou. Agora, diz, “é descansar por três dias e depois recuperar” para as batalhas que possam vir pela frente. Alexandre não vira a cara à luta nem aos obstáculos que podem ser em subidas que nunca mais acabam, curvas acentuadas, retas a perder de vista ou mesmo, o desgastante facto de se perder pelo caminho.

Talvez, estes desafios estejam talhados para os “Grandes”. Talvez, estas demonstrações de enorme força anímica sejam exemplos para todos os que se sintam a fraquejar em determinado momento da vida. Talvez os Alexandres devessem ser olhados com olhos de ver por quem de direito e terem os seus méritos reconhecidos, não somente com medalhas. Estes Alexandres dão provas de que a capacidade de superação merece ser devidamente recompensada!

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Francisco Ferra / Jornal Mira Online