Acidente com Alfa Pendular em Soure fez dois mortos. Há seis feridos graves e 19 ligeiros

Um comboio Alfa Pendular, os mais rápidos do parque ferroviário português, descarrilou na tarde desta sexta-feira a norte de Soure, no distrito de Coimbra, após embater numa máquina de reparação da via. Autoridades confirmam duas vítimas mortais, seis feridos graves e 19 ligeiros. Circulação ferroviária entre Alfarelos e Pombal cortada sem perspetiva de abertura.

Um comboio Alfa Pendular descarrilou hoje na Linha do Norte, no concelho de Soure, distrito de Coimbra, após colisão com uma máquina de trabalho. Fonte dos bombeiros de Soure explicou logo ao SAPO24 que o acidente “é grave”.

Segundo o balanço mais recente das autoridades, o descarrilamento provocou dois mortos, seis feridos graves e 19 feridos ligeiros, disse Carlos Luís Tavares, que fazia um ponto de situação no local. As duas vítimas mortais eram os únicos ocupantes da máquina de manutenção (VCC) da Infraestruturas de Portugal.

Dos 212 passageiros do Alfa Pendular, registam-se seis feridos de “média gravidade”, sendo que nenhum corre risco de vida, acrescentou. O maquinista do Alfa é o ferido grave que “inspira mais cuidados”.

“Já evacuámos para diferentes hospitais dez vítimas. Não temos já qualquer passageiro no Alfa Pendular”, referiu Carlos Luís Tavares, salientando que falta desencarcerar uma das vítimas mortais da máquina de trabalhos.

As vítimas ilesas foram encaminhadas para o Pavilhão Gimnodesportivo de Soure, onde estão a ser alvo de triagem por parte do INEM, retomando a sua viagem em Alfarelos, assim que tiverem alta, explicou.

Carlos Luís Tavares referiu que o número de vítimas mortais e feridos graves está “fechado”, podendo haver ainda algumas alterações quanto ao número de feridos ligeiros, dado que ainda está a ser feita a triagem.

O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) recebeu dois feridos graves , ambos politraumatizados, um dos quais estava pelas 19:15 no bloco operatório, disse fonte da unidade de saúde.

Para além destes dois feridos graves, que deram entrada nos Hospitais da Universidade de Coimbra, o Hospital Pediátrico “recebeu uma criança do sexo feminino, com ferimentos ligeiros, que será tratada e terá alta”, e espera a chegada de um rapaz “também com ferimentos ligeiros”, afirmou à Lusa fonte do gabinete de comunicação do CHUC.

A mesma fonte adiantou que a unidade hospitalar espera ainda a chegada de mais feridos, “todos ligeiros”, em número ainda não contabilizado.

Segundo a médica do INEM Paula Neto, há duas crianças entre os feridos ligeiros.

“Temos também as nossas equipas de apoio psicológico a acompanhar as pessoas que estão no Pavilhão Gimnodesportivo”, disse.

O Alfa Pendular seguia no sentido Sul-Norte, tendo saído de Santa Apolónia às 14:00 e tinha como destino final Braga.

O acidente ocorreu no concelho de Soure, mais concretamente junto à localidade de Matas, na região Centro.

Fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) disse à Lusa que foram acionados para o local cinco viaturas médicas de emergência de reanimação, duas ambulâncias de suporte imediato de vida, dois helicópteros, duas unidades móveis de intervenção psicológica de emergência, assim como duas viaturas de intervenção em catástrofe e várias ambulâncias.

No ‘site’ da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) é indicado que estão no local 176 operacionais, apoiados por 69 viaturas e dois meios aéreos.

O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, responsável também pelos transportes, já está no local do acidente. O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) vai investigar o descarrilamento. Fonte do GPIAAF disse à agência Lusa que a equipa de investigação já está a caminho do local para dar início às investigações e apurar as circunstâncias em que se deu o acidente.

Pedro Nuno Santos falou aos jornalistas, lamentando a morte dos dois trabalhadores da IP. O ministro garante que quer o Alfa Pendular, quer a infraestrutura e a sinalização são modernos. Já começou o trabalho de investigação “para tirarmos todas as ilações do que aconteceu com este acidente”, disse Pedro Nuno Santos, sem adiantar explicações.

“É prematuro estar a especular em público sobre as causas do acidente”, disse o ministro. “Não diria que a ferrovia passou a ser um meio de transporte inseguro. É dos mais seguros que temos, mas isso não impede que haja acidentes. Agora, temos de aprender com o que aconteceu para diminuir ainda mais o risco de acidentes”.

“O Alfa Pendular é uma máquina muito moderna, assim como a infraestrutura e sinalização. São de tecnologia avançada”, afirmou o governante, que sublinha os recentes investimentos feitos na ferrovia em Portugal (como a compra de carruagens a Espanha e a recuperação de material que está a ser feita nas oficinas da EMEF).

“O mais que podemos fazer é esperar pelas conclusões. Agora que o investimento na ferrovia está a fazer-se como há muitas décadas não se fazia em Portugal é uma verdade”, salientou.

A circulação ferroviária entre as estações de Alfarelos e Pombal, na Linha do Norte, está suspensa desde as 15:30, sem perspetivas de reabertura, devido ao descarrilamento do Alfa Pendular ocorrido hoje, indicou fonte da CP – Comboios de Portugal. Em declarações à Lusa, a mesma fonte adiantou que a empresa vai garantir “transbordo rodoviário” aos passageiros dos comboios em circulação.

“Aos clientes que já tenham bilhetes adquiridos para viajar em comboios dos serviços Alfa Pendular, Intercidades, InterRegional e Regional, a CP permitirá o reembolso no valor total do bilhete adquirido ou a sua revalidação, sem custos. Estes pedidos devem ser apresentados nas bilheteiras ou em www.cp.pt, até 10 dias”, informa uma nota divulgada no ‘site’ da empresa.

Em comunicado conjunto, a CP e a Infraestruturas de Portugal (IP) lamentaram, entretanto, a ocorrência do acidente.

Cerca de 200 passageiros acolhidos no pavilhão multiusos de Soure

Cerca de 200 passageiros foram acolhidos no pavilhão multiusos local, onde estão a ser acompanhados por mais de duas dezenas de voluntários médicos e enfermeiros, disse fonte camarária.

Segundo fonte do gabinete da presidência da Câmara de Soure, no distrito de Coimbra, estes médicos e enfermeiros, que se deslocaram voluntariamente para o local, “estão a receber as pessoas, a maioria sem ferimentos, mas também alguns feridos muito ligeiros”.

No local está igualmente presente uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), responsável pela triagem e apoio psicológico dos passageiros que para ali foram transportados.

“Os [profissionais de saúde] voluntários têm feito pequenos tratamentos, algumas suturas e ligaduras”, indicou.

Segundo a mesma fonte, os passageiros que estão no pavilhão multiusos serão ainda hoje transportados de autocarro para a estação ferroviária de Alfarelos, na localidade de Granja do Ulmeiro, localizada a cerca de 15 quilómetros de Soure, “para seguirem viagem, de comboio, para os seus destinos”.

Ministério destaca segurança da ferrovia

Num comunicado enviado esta tarde pelo gabinete de Pedro Nuno Santos, o ministro das Infraestruturas e da Habitação “lamenta o acidente ferroviário que ocorreu esta tarde na Linha do Norte, do qual resultaram duas vítimas mortais, trabalhadores da Infraestruturas de Portugal, sete feridos graves e cerca de três dezenas de feridos ligeiros, e apresenta as suas mais sinceras condolências aos familiares, amigos e colegas das vítimas e votos de rápidas melhoras aos passageiros do Alfa Pendular que ficaram feridos no acidente”.

A mesma nota afirma que o governante “realça a pronta e eficaz capacidade de resposta dos meios de socorro no local, nomeadamente da Proteção Civil, INEM, bombeiros, GNR e da Câmara Municipal de Soure, na figura do seu Presidente”.

“O comboio é um dos meios de transporte mais seguros, não estando em causa a segurança ferroviária. O Alfa Pendular, bem como a infraestrutura e sinalização da Linha do Norte, são sistemas tecnologicamente avançados, dotados de mecanismos modernos de segurança, o que infelizmente não impediu a ocorrência deste acidente, que carece agora de esclarecimentos sobre as suas causas”, conclui.

Alfas têm sistemas de segurança que os travam caso haja obstáculos

Os Alfas Pedulares, como aliás os outros comboios da CP, estão equipados com o sistema CONVEL, que automaticamente controlam a velocidade das composições. Caso haja um obstáculo na via, o comboio deve acionar automaticamente a frenagem, parando, explicou ao SAPO24 um especialista em ferrovia.

Dois comboios “nunca poderiam estar tão perto”, adianta a mesma fonte, que descreve o troço onde o embate ocorreu como a “principal linha do país”. Naquela zona, o Alfa Pendular não circula à velocidade máxima, mas trata-se de uma linha modernizada, onde este comboio rápido pode, ainda assim, atingir cerca 190 quilómetros por hora.

Por sua vez, o VCC, veículo de manutenção da Infraestruturas de Portugal, circula a uma velocidade de cerca de 50 a 60 quilómetros por hora, não sendo clara a razão para que estivesse na frente do Alfa.

Contactada pela Lusa, a Infraestruturas de Portugal (IP) referiu que os “danos serão avultados”, mas estão dependentes do inquérito do GPIAAF.

A IP acrescentou que nesta fase o importante é o auxílio aos passageiros feridos.

Marcelo lamenta o acidente

“O Presidente da República lamenta o grave acidente ferroviário desta tarde na Linha do Norte, de cujos detalhes foi informado pelo ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos”, lê-se numa nota divulgada no ‘site’ da Presidência.

Marcelo Rebelo de Sousa apresenta “sentidas condolências aos familiares e amigos das vítimas mortais” e deseja “rápidas melhoras aos numerosos feridos, aguardando os resultados das investigações técnicas e judiciais”.

Em declarações à RTP3, o Presidente da República admitiu visitar os feridos que estiverem hospitalizados em Coimbra, sublinhando que “o mais importante é estar com os familiares daqueles que faleceram e estar com os feridos, nomeadmente mais graves, e os seus familiares”.

O Presidente da República, que se encontra no Algarve, disse que no sábado irá marcar presença, em Cuba, no distrito de Beja, no funeral do bombeiro que faleceu na sequência de ter ficado ferido no combate a um incêndio em Castro Verde, admitindo, durante a tarde, visitar os feridos deste acidente, em Coimbra.

O chefe de Estado registou “a forma como a Câmara de Soure atuou no sentido de criar condições para acolhimento temporário dos muitos passageiros do comboio”, bem como “a rapidez com que foi instaurado um inquérito” às causas do acidente.

“Com grande rapidez houve a preocupação de ter a estrutura competente para inquirir o que se passou no terreno, e que há a preoucpação naturalmente de apurar aquilo que se passou, para além do que já se sabe, da colisão que houve e daquilo que antecedeu essa colisão, mas o apuramento que está em curso é importante, nomeadamente porque envolveu um número muito elevado de portugueses”, disse.

Costa lamenta “trágico acidente” e acompanha evolução da situação

O primeiro-ministro, António Costa, apresentou hoje “as mais sentidas condolências às famílias e amigos” das vítimas do “trágico acidente” que envolveu um comboio Alfa Pendular, e disse estar a acompanhar a evolução da situação “em permanência”.

“Apresento as mais sentidas condolências às famílias e amigos dos funcionários da IP vítimas do trágico acidente ferroviário que ocorreu hoje na linha do Norte, em Soure”, distrito de Coimbra, escreveu o primeiro-ministro na sua conta oficial na rede social ‘Twitter’.

António Costa informou que está “a acompanhar em permanência o evoluir da situação” e indicou que, “tal como foi anunciado pelo Ministro das Infraestruturas e Habitação, já foi aberto um inquérito para o apuramento rápido das causas e responsabilidades deste grave acidente”, que lamenta “profundamente”.

“Desejo também rápidas melhoras aos feridos e dirijo uma palavra de solidariedade para todos aqueles que trabalham nos equipamentos e infraestruturas ferroviárias e que prestam um serviço inestimável aos portugueses”, acrescenta a nota do primeiro-ministro.

Texto: Madremedia
Imagens: Paulo Cunha / Lusa